26 de abril de 2010

Proposta nº 3

A terceira proposta de DCV consistia, de um modo geral, em aplicar a cor à comunicação visual.

Para tal, devíamos escolher três objectos de comunicação visual como imagens, páginas ou capas de jornais ou revistas, cartazes, anúncios publicitários, embalagens, entre outros, e manipular os seus elementos constituintes ao nível da cor, com vista a alterar o significado da mensagem visual veiculada.

Neste sentido, procedemos à selecção de três imagens distintas que alteramos consoante o nosso objectivo.

Assim:




Esta foi a primeira imagem escolhida, fazia parte de uma cena de um filme de cowboys.

Como se pode ver, na imagem original, os cowboys têm um ar sério, corajoso, demonstrando a sua força física e também a das armas. Na segunda imagem, apenas pela alteração da cor da sua roupa para cores bastante alegres, quase folclóricas como verde, roxo, amarelo, cor-de-laranja…, facilmente se trocou aquela mensagem séria que a primeira transmitia para uma mensagem muito mais leve e divertida, até um pouco carnavalesca, arriscando-me a dizer quase ridícula.

É interessante verificar que, somente pela modificação da cor, muda todo o ambiente da imagem, parecendo até que os cowboys sorriem na segunda fotografia, em oposição à expressão carregada que têm na primeira.




A nossa segunda escolha recaiu sobre a perspectiva de a mudança da cor poder alterar a estação do ano.

Assim, procurámos uma imagem que simbolizasse a Primavera e optámos por esta que representa uma árvore verdejante, num jardim com uma relva também ela bastante verde, onde ainda se vêem algumas flores. O azul do céu mostra também um dia claro sem grande nebulosidade.

Alterando as cores, criámos uma paisagem de Outono. Transformámos as verdes folhas da árvore em folhas avermelhadas, características desta época do ano. Atribuímos à relva um tom mais acastanhado que lhe retirou toda a frescura primaveril e quanto ao céu, decidimos escurecê-lo ligeiramente, a ponto de criar a ilusão de nebulosidade e ameaça de chuva. Nesta imagem, alterámos ainda a sebe que se vê ao fundo, tornando-a verde mais escura.

Através deste exemplo, facilmente se percebe que a mudança das estações do ano é, também, uma mudança das cores características numa determinada época do ano. E assim alteramos o significado da mensagem visual inicial.





Quanto à terceira imagem, esta surge associada a cinema, nomeada aos Óscares que galardoam os actores, realizadores…

Apesar de haver diferentes classificações como actor principal ou actor secundário, dentro de uma determinada categoria, os Óscares premeiam a personagem que se destaca e, assim, receber um Óscar significa ser o melhor de uma categoria em particular.

Não se faz distinção entre quem recebe um Óscar, pois as estatuetas são todas iguais, todas douradas. Contudo, alterando a cor das mesmas, para prateado ou para um tom avermelhado, cor de bronze, conseguimos atribuir à imagem um significado diferente. Incluímos nela o conceito de competição e assim um dos Óscares (cor de bronze) passa a ser conotado com a terceira posição numa determinada categoria, outro (prateado) com a segunda posição e, por fim, o dourado é exclusivo para o grande vencedor, o que não acontece na imagem original.

Mais uma vez, a alteração da cor altera o significado da imagem. Passa-se de uma situação de igual importância para uma situação de competição, como se na segunda imagem de um pódio se tratasse.


Segue-se mais um exemplo, ao qual foi aplicada a mesma alteração:











Como a terceira opção parece ter ficado àquem das expectativas, decidimos escolher uma imagem completamente diferente. Assim, desta vez, a ecolha recaiu sobre o cartaz de um filme, The Nightmare before Christmas.

A imagem original é um pouco sombria, predominando cores escuras que apenas contrastam com o amarelo da lua e outras cores das personagens situadas no lado direito da mesma.

Na imagem alterada pretendíamos "romper" com este clima sombrio e, por isso, utilizámos cores mais alegres como vermelho, verde, azul, cor-de-rosa... Com estas alterações, criámos uma paisagem diurna em oposição à noite representado no cartaz original. A lua foi também transformada em sol, utilizando-se para tal cores pouco convencionais como cor-de-rosa e cor-de-laranja.

Em suma, nesta quarta opção alterámos o espírito subjacente ao filme Nightmare before Christmas, através da utilização de cores alegres que o dotam de um cariz mais infantil.

Proposta nº2

A segunda proposta de DCV consistia na elaboração de composições tipográficas a partir de poemas de Fernando Pessoa.

Mais concretamente, o objectivo era criar uma composição diferente para cada um dos seus heterónimos (Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos), tendo por base pequenos excertos dos seus poemas que seria, posteriormente, trabalhados consoante a nossa interpretação.

Além dos poemas, deveríamos utilizar igualmente um texto de aproximadamente vinte e quatro linhas, cuja função era complementar a nossa composição, dar forma ao conceito que pretendíamos representar e, por isso, não precisava sequer de ser legível.

Assim:

A primeira composição que elaborámos foi a respectiva a Alberto Caeiro, utilizando, para tal, o seguinte poema, além das restantes vinte e quatro linhas:




Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de coisa a coisa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!

Alberto Caeiro




Destaca-se que era obrigatório incluir o nome do autor na composição tipográfica.



Alberto Caeiro, heterónimo criado por Fernando Pessoa, é considerado o Mestre Ingénuo dos heterónimos e do próprio criador, apesar, de todos eles, ter si do o único a receber somente a educação básica.
Caeiro é um poeta ligado à natureza, um poeta que despreza e repreende qualquer tipo de sentimento filosófico, afirmando que pensar obstrui a visão ("pensar é estar doente dos olhos"). Para o poeta o importante é apreender o mundo através dos sentidos, sobretudo da visão, pois só assim se obtém o conhecimento, nunca através do pensamento, porque o mundo não se fez para pensarmos nele.
Afirma que, ao pensar, entramos num mundo complexo e problemático onde tudo é incerto e obscuro (“pensar incomoda como andar à chuva”).
É na natureza que Caeiro considera que os sentidos podem ser mais amplamente explorados, porque a natureza surge associada ao isolamento, à “ausência de gente”, aos animais que não pensam, portanto, a tudo o que é genuíno.
Assim, apresenta-se como um simples "guardador de rebanhos", cujas ovelhas são sensações, e a quem só importa ver a realidade de forma objectiva e natural. É um poeta de completa simplicidade, considerando que a sensação é a única realidade.



Foi, então, com base no poema e nalgumas destas características que definem Alberto Caeiro, e servindo-nos do software informático Free Hand, que criámos a nossa composição, cujo resultado final foi o seguinte:



Numa primeira visão, esta composição pretende retratar a dificuldade que os espaços naturais enfrentam face à crescente urbanização, sendo que a cidade está associada às “almas humanas” que, dado o stress do dia-a-dia, sentem necessidade de organizarem tudo à sua volta, categorizando tudo o que de mais espontâneo possa existir e delimitando ao máximo todos os espaços, esquecendo-se de viver livremente, genuinamente.


A natureza, por sua vez, com todos os seus elementos remete para a simplicidade, para a inocência e espontaneidade.

Assim, nesta composição, pretendia-se criar uma certa comparação entre estes dois mundos, acentuando o desequilíbrio entre os mesmos pela própria forma dos objectos retratados.



Como os primeiros versos do poema dizem respeito às tais “almas humanas”, decidimos que uma boa forma de as caracterizar seria através de uma cidade e, por isso, “construímos” um conjunto de prédios completamente verticais para representar a seriedade com que as pessoas vivem as suas vidas e que o autor critica no seu texto. Além desta verticalidade, associámos à cidade cores mais escuras, mais pesadas, ou seja, menos divertidas como preto e vários tons de cinzento.


Escrevemos nestes prédios: “Tristes das almas humanas”.


As primeiras duas palavras surgem no topo de dois dos prédios construídos.


A palavra almas, por sua vez, dá forma aos próprios edifícios, sendo a essência da cidade. Nesta palavra destaca-se a letra S que surge como um raio de sol mais extenso.

Quanto à palavra humanas, pretendia-se que estas simbolizassem a presença de pessoas nas suas habitações, e por isso, escolhemos a cor amarela para as letras que a compõem, representando a luz das janelas acesas, varandas, etc… No fundo, pretendia-se criar um ambiente humano, contrapondo-o à natureza.


No que respeita à escolha dos tipos de letra, esta foi bastante variada, no entanto, recaiu principalmente sobre letras não muito estilizadas, algumas arredondadas para servirem de janelas. Algumas letras foram alteradas, quase desenhadas, por nós para se transformarem em edifícios ou parte destes, e, por isso, não se pode dizer que pertençam a um tipo de letra específico. Outras letras foram procuradas mais pela sua forma do que pelo tipo a que pertence, com vista a cumprirem objectivos específicos, como é o caso da letra L e a letra N que foram utilizadas como portas nestes edifícios.


Analisando agora a parte inferior desta composição tipográfica, esta remete-nos para a natureza, com a presença de elementos como uma árvore, uma flor, relva, uma rocha…


A árvore pode ser considerada o elemento central desta composição. No seu tronco e ramos estão escritos os seguintes versos: “Que traçam linhas de coisa a coisa,/Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,/E desenham paralelos de latitude e longitude/Sobre a própria terra inocente.”

Salienta-se que a árvore foi desenhada ligeiramente inclinada não só para contrariar a verticalidade associada aos edifícios, e explicitada anteriormente, mas também para representar a quase extinção da natureza num mundo cada vez mais industrializado, assim a árvore parece estar quase a morrer.

Quase, mas não totalmente. Ainda há uma réstia de esperança e, por isso, nesta parte da composição surgem cores mais vivas, mais alegres, passando-se gradualmente do castanho para o verde-claro e até azul, que compõe as pétalas da flor, exceptuando-se o cinzento que dá forma à rocha.

Em relação aos tipos de letras utilizados, a escolha ainda foi mais variada nesta parte da composição, sendo que algumas palavras são constituídas por vários tipos de letra distintos. Os tipos de letra utilizados foram pensados mais em função da forma que se pretendia atribuir a cada palavra como é exemplo o caso da flor constituída pela palavra florida ou da rocha. Há também variações em relação ao tamanho das letras para conferir mais dinâmica à composição.

Quanto ao tipo de letra, é importante ainda destacar os C’s utilizados para contornar a própria, cumprindo assim um objectivo específico, à semelhança do que ocorrera com as portas dos edifícios.

O nome do autor (Alberto Caeiro) foi inserido na parte superior da composição, dando forma a três aves e uma nuvem.

Em suma, nesta composição o principal objectivo foi representar a oposição entre a natureza, associada à genuinidade e simplicidade, e a cidade que, com as suas “almas humanas”, parece ter uma necessidade intrínseca de complicar o que já é naturalmente simples.




A segunda composição por nós elaborada referia-se a Ricardo Reis, outro dos heterónimos de Fernando Pessoa.

Nesta composição, à semelhança da anterior, tínhamos também de partir obrigatoriamente do seguinte excerto de um poema, podendo usar ainda as 24 linhas de texto para complementar o trabalho:



Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Ricardo Reis



Ricardo Reis foi imaginado de relance por Fernando Pessoa, mas nem por isso a sua obra se apresenta menos complexa do que a dos outros dois heterónimos.

Reis é dos três o mais calmo, o mais pacífico. Aprecia a serenidade das coisas e aceita que a vida passa consoante o que está destinado, sem que os homens possam fazer seja o que for para o alterar, assim como o rio sempre corre até ao mar, como refere num dos seus poemas.

Para o poeta, a única certeza é a morte, e sabendo que esta chegará quer queiramos, quer não, advoga que devemos viver a vida sem grandes preocupações, nem lamentações, mas sim de uma forma equilibrada, buscando sempre a paz e a tranquilidade.

Neste sentido, é um epicurista e um estóico, porque não questiona a fatalidade das coisas, não teme a morte e procura o prazer simplicidade da vida, sempre sem preocupações, olhando a realidade de uma forma apática, procurando evitar a dor e, por isso, não exagerando, não se entregando a nenhuma emoção, nem nenhum sentimento, pois só a liberdade emocional lhe permitirá alcançar a tal paz de espírito que procura.

Ricardo Reis é um homem puro, não gosta de excessos. Não ama exageradamente, não sofre exageradamente… não vive exageradamente, porque a vida é efémera e o que quer que façamos nunca será eterno.

Quando se apercebe que assim só alcança ilusões de sentimentos, Reis cai num epicurismo triste, devido a um purismo exagerado… ele, o poeta que nunca comete excessos.


Como refere Fernando Pessoa:



Pus em Reis a minha disciplina vestida da música que lhe é própria.
Reis escreve melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado.

Fernando Pessoa



Partindo de algumas destas características, e utilizando o Free Hand, a nossa composição final é a seguinte:





De uma forma geral, pretendia-se retratar a fugacidade da vida e, simultaneamente, os pequenos prazeres da mesma.


Neste sentido, optámos por desenhar um rio no qual incluímos parte do excerto obrigatório (Lembrando-te assim à beira rio). Este rio é a base da composição.


Foram utilizados três tipos de azul, sendo que o mais forte se aplicou justamente ao fragmento de texto que pretendíamos destacar.


Quanto aos tipos de letra, procurámos letras simples, não muito estilizadas, mas que, de uma forma subtil, parecessem manuscritas. A maior parte do texto tem um tamanho de letra reduzido, para conferir um certo volume ao rio, e, na parte superior do mesmo, a forma que as palavras descrevem sugere a ondulação da água.


Salienta-se que a palavra rio surge como ligação entre dois excertos, um dos quais, não fazendo parte do poema obrigatório, é, de certo modo, importante, uma vez que demonstra a referida fugacidade e efemeridade da vida. O facto de o texto que está na base deste rio se apresentar de uma forma horizontal, sem qualquer tipo de ondulação, pretende demonstrar que apesar de por vezes o rio, como metáfora para a vida, parecer estar parado, não quer dizer que deixe de correr em direcção ao mar, daí a ondulação apenas presente na parte superior.

Na parte superior da composição inclui-se o restante excerto: Ser-me-ás suave à memória… pagã triste e com flores no regaço, dando forma a uma flor, que simboliza a pagã triste e os pequenos prazeres da vida que Ricardo Reis tanto aprecia.


A flor está posicionada sobre o rio, como se se pudesse afogar, sendo, depois, apenas suave à memória do poeta.


Esta parte da composição apresenta outros tipos de cores como amarelo, verde, vermelho, cores mais alegres que compõem a flor e representam os tais simples prazeres, mas também preto, justamente no núcleo da mesma, remetendo para algum sentimento do qual restará somente uma vaga memória suave.


No que respeita aos tipos de letra utilizados, estes são igualmente simples, não parecendo tão manuscritos. São simples, como são simples as tais coisas que, na óptica do poeta, devemos apreciar.


Quanto ao tamanho das letras, as que constituem o núcleo são ligeiramente maiores do que as que dão forma às pétalas, o que confere um certo dinamismo à própria flor.

O nome do autor, que também era obrigatório incluir na composição, aparece no canto superior esquerdo da mesma. Foram utilizadas letras maiores e de cor preta, um pouco mais trabalhadas do que as restantes. A base de algumas letras foi como que “puxada” para baixo, visando representar a tal fugacidade da vida, uma vez que nada fica como está e como se o próprio poeta fosse também ele “puxado” da apatia em que vive.

Assim se descreve e interpreta a nossa composição tipográfica relativa ao excerto do poema de Ricardo Reis.


A terceira composição dizia a respeito ao heterónimo Álvaro de Campos.


Álvaro de Campos é um dos heterónimos mais conhecidos de Fernando Pessoa.
Entre todos os heterónimos, foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo de sua obra, falando-se em três fases distintas: a decadentista, a sensacionista e a intimista.
Na primeira fase, decadentista, influenciado pelo simbolismo, exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações. Nesta fase, o poeta sente falta de um sentido para a vida e uma necessidade de fugir à monotonia.
A fase senacionista, também chamada de futurista, é bastante influenciada por Walt Whitman e Marinetti e caracteriza-se por pela celebração do triunfo da máquina como símbolo da civilização moderna. Campos apresenta a beleza da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida e exalta o progresso técnico, daí a designação futurista.
Quanto ao sensacionismo, este revela-se na vivência excessiva das sensações e na linguagem eufórica e jactante presente em vários poemas.
A terceira fase, a intimista surge depois de uma serie de desilusões com a própria vida e traz de volta o abatimento que se traduz num cansaço extremo. O poeta sente-se vazio, incompreendido, um marginal e expressa o seu sofrimento e as suas angústias. Nos seus poemas destacam-se a solidão interior, a incapacidade de amar, a descrença em relação a tudo, a nostalgia da infância, a dor de ser lúcido, a oposição entre o sonho e a realidade.
Campos é um heterónimo complexo e inconstante, cuja obra está patente esta e evolução.



À semelhança das outras composições, também tínhamos de partir obrigatoriamente do seguinte excerto, podendo ainda utilizar 24 linhas de texto para complementar o trabalho:


Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!

Álvaro de Campos




Partindo das características acima referenciadas, nesta composição procurámos retratar a modernidade das cidades e a força da máquina que Álvaro de Campos tanto exalta na fase futurista.

Assim, decidimos representar uma fábrica no lado esquerdo da composição, como símbolo da industrialização. Para tal, utilizámos um tipo de letra pouco estilizado e de cor preta, moldando um bloco de texto em forma de edifício.

Com as restantes linhas de texto complementar decidimos preencher o fundo com poemas de Campos, utilizando uma fonte manuscrita e optando por cores fortes como o azul e o verde que reforçam a linguagem eufórica presente na obra futurista.

Utilizámos também parte das vinte e quatro linhas para escrever a frase “tumulto disciplinado das fábricas”, no lado esquerdo da composição, logo acima da fábrica, como se fosse o fumo que saía desta. Utilizámos a cor cinzenta que representa justamente o fumo e moldámos as letras tentando criar a sensação de fúria e força.

Quanto ao poema propriamente dito, este ocupa a parte inferior esquerda da composição. Utilizámos o preto como cor das máquinas, mas também o azul, o vermelho e o amarelo e procurámos destacar cada palavra individualmente, mas essencialmente as palavras “forte”, “espasmo”, “fúria” à qual atribuímos a cor vermelha e o nome do heterónimo.

A parte do poema “r-r-r-r-r-r-r eterno!” serviu de moldura à própria composição, utilizando um tipo de letra maiúsculo, simples e de cor preta.

Assim se resume a nossa interpretação tipográfica do excerto da Ode Triunfal de Álvaro de Campos.

20 de abril de 2010

Tipografia.

Experimentem sair de casa, nem que seja por cinco minutos. Conseguem contar o número de letras que se cruzam convosco ao longo do caminho? (Podem contar palavras, se for mais fácil...)


Então, quantas foram? Dezenas? Centenas?


Pois é, numa simples rua ou avenida encontramos imensas letras... palavras por toda a parte. Nos cartazes, nos panfletos que nos deixam no vidro do carro, nas montras das lojas e cafés, etc... Lemos algumas das frases que se vão cruzando connosco, noutras nem reparamos. No final de um dia, eventualmente, conseguimos reproduzir uma ou duas que nos despertaram a atenção de uma forma mais especial, isto porque algumas delas comunicaram visualmente melhor connosco do que outras.

Algumas palavras estavam escritas com um tipo de letra diferente, tinham uma cor atractiva que se encaixava num contexto específico e nos fez decifrar a mensagem de um modo mais agradável, ao ponto de ainda nos conseguirmos lembrar dela no final do dia.

Assim é o mundo da tipografia.

Conseguir no meio de tantas letras, palavras, frases... no meio de tantas línguas, transmitir uma determinada imagem, um determinado conceito ainda que a mensagem a passar seja extremamente simples.

Se alguém na rua nos entregasse um panfleto com letras cor-de-rosa e demasiado estilizadas e nos dissesse que se tratava da abertura de um novo espaço de videojogos, daqueles onde podemos, em rede, disparar contra um ecrã de computador, talvez achássemos um pouco estranho, um pouco duvidoso... no mínimo fora do contexto.

E se este panfleto fosse entregue no dia da abertura de um novo cabeleireiro exclusivo para mulheres? Já fazia mais sentido, ainda que a mensagem escrita, e só escrita, fosse a mesma: "Aberto das 9h às 19h. Encerramos aos Domingos e Feriados".


É fácil perceber que a tipografia pode ser uma ferramenta bastante útil na realização de certos objectivos, permitindo comunicar uma determinada ideia através do modo como se conjugam letras e palavras, no fundo, através do modo como se brinca com a linguagem.

Etimologicamente, tipografia deriva do grego typos (forma) e graphein (escrita), e, deste modo, pode ser definida como a criação de arte através da composição de texto.

No âmbito do design, a tipografia é um mundo extremamente criativo, que nos permite dar largas à imaginação e representar o mesmo conceito, a mesma imagem mental de um milhão de maneiras diferentes.

Muitas vezes, a tipografia permite-nos "ver" antes de "ler", e, por vezes, dependendo do objectivo de cada um, nem é preciso ler nada, o importante é ver, comunicar visualmente uma determinada ideia que, por acaso, é composta por letras.

De um ponto de vista mais formal, ou académico, é importante referir que os tipos constituem a principal ferramenta de comunicação da tipografia e são, de um modo simplificado, as famílias de letras como Verdana, Arial, etc..

As diferentes alternativas dos tipos permitem revestir o documento de uma determinada expressão, de modo a transmitir instantaneamente e de forma não-verbal uma certa imagem.

Ao elaborarmos um trabalho tipográfico, é necessário ter em conta diversos factores como a escolha adequada de fontes, a composição (layout)do texto, o tom do próprio texto e sua relação com os elementos gráficos da página.

É a combinação destes factores que atribui à tipografia uma determinada atmosfera adequada ao conteúdo abordado.

Classificação das fontes

As fontes tipográficas classificam-se em quatro grupos:

  • serifadas –são mais rebuscadas

  • não-serifadas –são mais simples, mais parecidas com os alfabetos originais

  • cursivas –pela sua inclinação e traço, parecem manuscritas

  • fontes dingbats – consistem em símbolos




Elementos das fontes


Todas as fontes tipográficas são constituídas pelos seguintes elementos:

(Em parêntesis, segue a sua designação em inglês, que mais vezes consta na bibliografia).

  • Linha de Base (baseline)

  • Linha Central (meanline ou midline)
  • Ascendente (ascender)

  • Descendente (descender)

  • Letra Caixa Alta (upper-case)

  • Letra Caixa-baixa (lower-case)

  • Altura de x (x-height)

  • Cabeça ou Ápice (apex)

  • Serifa (serif)

  • Barriga ou Pança (bowl)

  • Haste ou Fuste (stem)

  • Montante ou Trave (diagonal stroke)

  • Base ou Pé (foot)

  • Barra (bar)

  • Bojo (counter)

  • Etc



Alinhamento

No que respeita ao alinhamento, existem cinco formas básicas de organizar as linhas de composição numa página:


1) Justificada: todas as linhas têm o mesmo comprimento e são alinhadas tanto à esquerda quanto à direita.

2) Não-justificada à direita: as linhas têm diferentes comprimentos e são todas alinhadas à esquerda e irregulares a direita.

3) Não-justificada à esquerda: as linhas têm diferentes comprimentos e são alinhadas à direita e irregulares à esquerda.

4) Centralizada: as linhas têm tamanho desigual, com ambos os lados irregulares.

5) Assimétrica: um arranjo sem padrão previsível na colocação das linhas.


Aqui ficam alguns exemplos de trabalhos tipográficos (alguns dos quais serviram de inspiração à elaboração da proposta de trabalho), onde é perceptível a “magia” que se pode criar só com letras. Nuns lê-se, noutros nem por isso. Mas todos comunicam.